domingo, 31 de dezembro de 2017

Reinvenção

Contra a intolerância, o ódio e a rasgada dor
Ergue-se a pobre menina
Pequena e desprezada
A menor de sua casa
Ela decidiu enfrentar o Gigante

Caminha em direção ao rio
Escolhe três pedras
E se vira rumo ao seu (in)certo destino

Caminha equilibrando seu corpo frágil sobre duas pernas finas
Seus passos não são errantes nem vacilam
Firme, ela vai
E não olha para trás

A multidão, atônita,
Acompanha muda o seu caminhar
Não há gritos de incentivo
Nem vaias que a tentem alertar 

Em suas mãos, três pedras
Em sua alma, um ardor
Em seu peito, uma infinitude de sonhos 
A si mesma faria um favor:
Enfrentaria o Gigante
E, enfim, poderia seguir adiante

Preparou a sua funda
Com a primeira pedra, pontiaguda, acertou o medo
A segunda, mais pesada, colocou sobre o passado
E a terceira pedra arremessou com força
Em direção à fronte do Gigante que há anos a atormentava

Ele tombou!

Não houve aplausos
Imperou o silêncio...

Ela suspirou
Agora poderia partir
Não tinha bagagem
Sempre carregou muito mais no peito que nas mãos
Seu grande tesouro estava guardado no coração

Deixou atrás de si um gigante morto
Uma multidão silenciada

E à sua frente?

Uma longa estrada, a se perder de vista
E uma imensidão de sonhos

Não sabia para onde iria
Mas decerto não era mais uma pobre menina
Tornou-se mulher


Mulher, quando o Gigante aparecer
Lembre-se de que em sua frente há um caudaloso rio
Sempre haverá rio
Pedras no caminho
E uma imensidão de sonhos que estão logo ali, do outro lado do medo
As pedras no caminho podem aniquilar nossos Gigantes:

Reinvenção  




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