-Queria inventar uma palavra que não existe, irmão.
- Que palavra, doida?!
- Na verdade um conceito. Ih, não me olha com essa cara que não é nerdice não. Sabe aquele sentimento de deslocamento, não pertencimento? Quando a gente não consegue encontrar um lugar no mundo no qual se encaixe?
-Ah, sei, também sinto isso.
- Existe uma palavra que defina esse nosso não-lugar no mundo?
- Em português, acho que não.
- Bora inventar?
- Vai adiantar nada! Todo mundo vai continuar sentindo e ninguém vai usar a palavra que você inventar.
- É... Tem razão. Acho que nem se eu tivesse terminado o doutorado. Tem que ter autoridade pra inventar palavra né?
- Tem. Tem que ter isso e uma cabeça meio doida que nem a nossa.
- Ah...Isso a gente tem.
- Mas esquece essa parada. Não somos peças pra encaixar.
- É... Verdade... E aqueles que acham que encaixam, ou não se deram conta de nossa peculiar inadequação ou tão mentindo pra si mesmos.
- É...Muitos mentem, verdade. Digo, mentira.
- Acho que por isso nunca gostei de quebra-cabeças... Sou uma desajustada, reconheço.
- Somos. Você não está sozinha, embora pareça que sim.
- Isso! Há um numeroso grupo dos que divergem , né não? Aqueles que não se enquadram. Que, por mais que tentem, não cabem no quadrado. Os que pensam fora da caixa, os desencaixados... Achava que isso era defeito, mas agora tô achando tão bonito...
- Irmã, vai dormir...
- Vou. É mesmo uma das coisas que mais gosto de fazer. Boa noite.

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