quinta-feira, 24 de agosto de 2017

Ele acordou com a folha de papel acariciando-lhe o rosto. Foi então que despertou e percebeu que ela não estava mais ali. Puxou o cobertor na tentativa de esconder de si mesmo a sua nudez e leu a mensagem escrita com uma letra tão pequenina e frágil quanto ela.

Sim, eu sinto que não sou normal. É como se eu estivesse fora do time, deslocada, sempre à parte. Fico correndo, na tentativa de preencher meus vazios ou pelo menos desviar minha atenção deles. A gangorra é mesmo a metáfora dos meus dias. Meus sentimentos sobem e descem, ininterruptamente. E isso é muito doloroso. Sim, eu durmo na tentativa de não sentir essa dor. E é muito comum eu conversar com Deus antes de adormecer, pedindo para não acordar mais, para simplesmente apagar e não voltar. Sei que não há motivos racionais e aparentes para essa tristeza infinita que me abate. Dói porque dói. Mas a ferida não está aberta e exposta. Eu sei que preciso investigar de onde vem essa dor tamanha. Mas às vezes dá um medo disfarçado de preguiça que me faz estagnar e continuar assim, na letargia, como se o fato de me desconcentrar da dor faça com que um dia eu a esqueça. Mas não. Ela não desaparece. É certo que sempre retorna, de forma cíclica, constante. Inconstante é o meu modo de viver, de ver o mundo, de sentir, de amar, de gostar... Queria não ser assim. Se eu pudesse mudar,  se tivesse esse poder, juro pra você que já teria feito. Então, quando me deparo com minha impotência, enclausuro-me em meu eu. Me embrulho em mim. E nessas horas o que mais quero é estar sozinha. Se pudesse me afastava até de mim mesma. Então durmo. Isso certamente influencia o modo de me relacionar. E também acabo querendo ser quem não sou, como se assumindo outro papel eu pudesse me livrar de mim mesma. Então quero gritar, correr, chocar, ser diversa, ser diferente daquilo que esperam que eu seja... Só queria que acreditasse que você é muito importante na minha vida, que reconheço teu esforço, teu amor. Não quero te fazer sofrer, mas ao mesmo tempo sinto que não posso te fazer feliz, pois não consigo fazer isso nem por mim mesma. Como fazer alguém feliz se eu mesma não recebi a dádiva da alegria e do contentamento? Como amar outra pessoa, se não amo a mim mesma? Como prosseguir?⁠⁠⁠⁠ 

Ele se levantou. Guardou a folha de papel na caixa que continha as outras cartas. Mais uma vez ela ia embora sem avisar, mais uma vez lhe tirava a chance de ser feliz ao amanhecer.


Resultado de imagem para carta tumblr

Nenhum comentário:

Postar um comentário